Sabe aquele esmalte nas minhas unhas do pé? Eu tirei, meu bem. Não estava usando por vaidade, mas para esconder uns roxos que ganhei nas unhas. Aliás, esconder é algo que faço muito,
baby. Como diz uma música de que gosto bastante, "eu sei que é difícil manter um coração aberto mesmo quando os amigos parecem machucar você". Foram muitos anos sendo magoada,
darling, de diversas formas. Sabe o que vejo agora? As pessoas magoam, mesmo. Cada ser humano é único, todos temos problemas e não temos o "manual de instruções" de todas as pessoas. Tentamos conviver, tentamos interagir, tentamos amar, tentamos compreender, só que cada um faz do jeito que sabe, a seu modo, levando em conta o que é e o que viveu. Não é preciso ter medo de ser magoado pelos amigos, pelos familiares, pela vida. Isso não invalida o amor que eles sentem, e isso não quer dizer que eles não estão tentando de todo o coração. As pessoas vão estar conosco, vão nos amar, vão nos abandonar, vão se aproximar, vão se afastar, mas é porque cada um está vivendo sua loucura particular e não é fácil conciliar.
Medo. Isso tira muitas possibilidades, tira a potência da vida. Ele é importante em algumas situações, mas não podemos ficar viciados nele,
my dear. Ele impede momentos lindos, inclusive esses, de se abrir para o mundo sem se preocupar em ser sincero demais, em dizer o que pensa, mesmo que fiquemos sozinhos. O importante é estar em paz com você mesmo, sabendo, ao menos suficientemente, quem você é,
sweetheart. Não minto, mas omito, exatamente pelo medo do julgamento alheio. Querem me julgar? Não posso controlar isso, então tentarei não me omitir mais. Cansei de me esconder embaixo da cama, ou atrás das pessoas, ou atrás de um escudo enorme,
miei cari!
Os roxos nas unhas? Resquícios de uma viagem maravilhosa que fiz em dezembro. Andei demais, usando duas ou três meias e uma bota. Andei o dia todo. Deslumbrei-me. Vi lugares que antes só existiam em fotos e em filmes para mim. Os dedos ficaram inchados e ganhei roxos por debaixo das unhas. Ainda bem que elas não caíram, mas inventei de passar esmalte para que as pessoas não achassem aquilo feio. Feio,
chéri? Como as lembranças, marcas e cicatrizes de uma viagem linda, suada e bem-aproveitada podem ficar escondidas assim? Vou partir para extremos: da vergonha, vou para o orgulho de ter ido e ostentarei meus roxos como prova de que fui, vi e venci.
O esmalte era só mais uma máscara das tantas que ainda uso, e que sei que todos nós usamos. Não há como se livrar de todas, mas, enquanto houver acetona, muitos esmaltes podem ser removidos. Chega de esconderijos. As pessoas amam, odeiam, apegam-se, desprezam, julgam, entendem, independente do que você mostrar. Pretendo me mostrar mais como sou, então,
mes amis. Agindo assim, os sinceros também se aproximarão e, mesmo que saiam faíscas, ao menos ninguém foi enganado nesse processo.