sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Wabi-sabi

De repente, eu me lembrei de quem eu sou, e não foi olhando no espelho: foi olhando para fora, para as coisas que eu comecei a fazer e que achei que poderiam fazer parte da minha vida e me ressignificar. Não. Essas coisas são apêndices, apenas momentos jogados no tempo, experimentações, mas não o que me define. Aliás, não há algo a ser definido. Existe alguém com potencialidades e com mudança de vontades. Definir-me é perder-me. É o vai-e-vem de reflexões e novos/velhos caminhos que vai me constituindo, mas sem uma definição clara, pois estou em construção. Minha movimentação é constante e minha consciência é pulsante. Estou viva e é isso que dita o ritmo da dança, ainda que haja pausas ou movimentos ousados. Posso ir para frente, para trás, para os lados ou andar em círculos, mas algo sempre mudará para tudo fique o mesmo: um perfeito imperfeito. Aceitação da impermanência. Wabi-sabi.

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Desacelerar

Quando você começa a desacelerar, tudo vai, ironicamente, acontecendo de repente. Quando você vê, sua vida voltou ao normal e, aos poucos, você se sente mais centrado e confiante, pois as interferências de outras pessoas são deixadas de lado, já que você toma posse das suas escolhas e enfrenta as consequências (boas e ruins) das suas decisões. Entenda: você é um ser social, as pessoas vivem COM você, mas ninguém pode viver POR você. Não é bom ter pressa e ficar ansioso, mas postergar e não agir gera frustração e angústia. Silenciar e ouvir a "voz interior" é um passo importante para conhecer a si mesmo. Depois que você "se olha no espelho" e sabe exatamente do que é capaz, seus valores, seus desejos, suas capacidades, suas limitações, você consegue ter um convívio amigável e pacífico consigo próprio. Não há pessoa mais forte e poderosa do que aquela que sabe realmente quem é. Não seja um estranho para você mesmo. Seja seu melhor amigo e sua própria fonte de energia.

sexta-feira, 1 de maio de 2020

Dentro

Hoje perguntei a um amigo o que ele tem feito para manter a paz. Perguntei se ele faz meditação e ele me disse, "sim, sempre. É preciso ir para dentro, e não para fora". Isso me fez refletir. Pensei em todas as vezes em que tentamos agradar os outros e deixamos de lado o nosso eu (já que dizem que ser altruísta é algo "bonito"), só que não adianta fazer o bem e prejudicar-se. Pense em você! Volte seu olhar para dentro e tudo do lado de fora perderá a importância exagerada - ou melhor, perderá o valor superestimado que você está dando a pessoas e a situações transitórias. Tudo vai passar, mas você continua.

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Receba

"Espere o melhor, prepare-se para o pior e receba o que vier". Esse provérbio chinês traz lições importantes. Primeiro: "espere o melhor". Esperar o melhor é acreditar que tudo aquilo que sonhamos/desejamos/almejamos vai se realizar. Traz esperança, mas também paciência ("espere"). Segundo: "prepare-se para o pior". Preparar-se é tomar precauções, é pensar nas variáveis que podem atrapalhar a realização de nossos sonhos/desejos. É avaliar as situações, mas também agir e arriscar-se conscientemente; é ter um plano reserva ("prepare-se"). Terceiro: "receba o que vier". Apesar dos sonhos e da preparação (tanto para a realização dos planos como para enfrentar um possível revés), pode acontecer algo completamente aleatório. "O que vier" pode não ser o que foi esperado/preparado (nem o bom, nem o ruim). Esta última parte nos ensina, portanto, a aceitação ("receba"). Quando nada é como queremos, reclamamos e não conseguimos vislumbrar uma solução, mas podemos aprender a receber o que nos chega e a transformar isso em algo proveitoso para nossas vidas. Muitas coisas acontecem conosco e cabe a nós decidir como vamos recebê-las. É como um presente: você o recebe e decide se agradece e tira o melhor proveito possível ou se olha para ele com desdém e joga-o num canto, reclamando que gostaria de ter recebido outra coisa. O ato de receber deve ser seguido de um ato de gratidão. Receba o que vier e agradeça. Certamente, depois disso, tudo será mais fácil e simples de administrar.

sábado, 21 de março de 2020

Pandemia

Sempre fui apaixonada por ficção científica. Já vi muitos filmes e li muitos livros com essa temática. Os filmes com conteúdo pós-apocalíptico, então, sempre me fascinaram, pois eu nunca imaginei que algo assim pudesse, realmente, acontecer. Nosso planeta já passou por muitas crises, mas, como já superamos todas e as gerações continuaram, acreditei que nunca mais enfrentaríamos momentos sinistros, ainda mais com a evolução da tecnologia e da ciência. Qual não é meu espanto ao deparar com essa nova situação. Estamos todos confinados em casa para não transmitirmos um vírus que surgiu em outro país. Quem diria! Os números crescem a cada dia de forma assustadora. Estamos trancados em casa, mas como isso tem sido para todos? Para muitos, é tranquilo, é normal: é só ficar em casa e estamos a salvo. Para outros, é uma tortura, um desespero. O que realmente esperar, já que, o único jeito, é deixar o tempo passar para trazer alento, esperança e soluções? Muito tem sido feito, mas nada nos preparou para essa situação. Estávamos seguros, vivendo normalmente nossas mazelas cotidianas. Tudo agora parece infinitamente menor do que essa pandemia. Estamos separados de entes queridos, estamos preocupados, ansiosos e precisamos exercer a paciência. Qual será o saldo, ao final de tudo isso? Nem me refiro aos mortos, infectados ou curados, e sim ao saldo emocional. Como sairemos dessa situação? Ilesos, nunca. Todos nós estamos sendo afetados, de alguma forma. Cabe a nós saber como enfrentaremos as consequências desse caos instaurado. Desejo a todos uma plena recuperação, principalmente emocional e psicológica, pois precisaremos de muita força e serenidade. Imunidade emocional é o que devemos estimular e cultivar para que possamos fortalecer aos que se encontram desesperançados. Nossa humanidade está em jogo. Que o saldo seja positivo.

terça-feira, 7 de janeiro de 2020

2020

Parece clichê que início de ano seja um momento de recomeço, mas, simbolicamente, é. Viramos uma página na agenda e esse ato, em si, ainda que seja um movimento pequeno, é um novo passo. Comecei o ano com muitas resoluções, e não só aquelas do papel: tenho executado, desde o fim do ano, tudo o que planejei (e há mais por vir!). Atitudes dizem muito, mas também ofereço um brinde ao acaso: os encontros que tive nesses poucos dias de 2020 (e um em especial) me fizeram dar adeus, definitivamente, a 2019. Começo o ano com a certeza de que eu melhorei, e muito. Os últimos anos foram agitados, de aprendizado intensivo e de recomeços constantes. Sobre o encontro especial que o acaso me proporcionou, posso dizer que aquele peso, ao menos de minha parte, não existe, assim como a pessoa que eu pensei que tivesse algum significado para mim. Hoje eu conversava com um amigo sobre essas "amizades líquidas", sobre ser descartado, sobre falta de profundidade, sobre intolerância e, ao deparar com tal pessoa do passado, que eu pensei estar viva nas lembranças e na vida, percebi que meus conceitos sobre amizade e perdão não estavam sintonizados com os dela. Naquele momento notei, enfim, que eu estava livre. Caminhei pelas ruas com a leveza de quem cumpriu sua parte, de quem pode, com firmeza e segurança, andar livremente sem nunca mais pensar em nada daquilo. Um dia, toda aquela história foi significativa (e todo o aprendizado ainda é, pois não se pode ignorar as lições); hoje, no entanto, essa história é só mais uma página virada, amarelada e sem importância alguma.

domingo, 3 de novembro de 2019

Seja

objeto
do meu mais desesperado desejo
não seja aquilo
por quem ardo e não vejo

seja a estrela que me beija
oriente que me reja
azul amor beleza

faça qualquer coisa
mas pelo amor de deus
ou de nós dois
seja

(LEMINSKI, Paulo. Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013)

quinta-feira, 11 de julho de 2019

Back

Coming Back To Life
Pink Floyd
(Written by David Gilmour)

Where were you when I was burned and broken?
While the days slipped by from my window watching
Where were you when I was hurt and I was helpless
Because the things you say
And the things you do surround me
While you were hanging yourself on someone else's words
Dying to believe in what you heard
I was staring straight into the shining sun

Lost in thought and lost in time
While the seeds of life and the seeds of change were planted
Outside the rain fell dark and slow
While I pondered on this dangerous but irresistible pastime
I took a heavenly ride through our silence
I knew the moment had arrived
For killing the past and coming back to life

I took a heavenly ride through our silence
I knew the waiting had begun
And headed straight into the shining sun...

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Sensações

Eu estava me lembrando, esses dias, daquele nosso encontro que nunca aconteceu. Você se lembra daquele instante quântico, que pode ser passado ou futuro, mas que existe em nossas mentes? Às vezes, eu me lembro... Nessas horas, eu penso: por que não nos encontramos realmente? Essa nossa conexão, que eu sinto mais vir da sua parte do que da minha, poderia se concretizar de verdade. O que nos impede? Eu vejo que você está sinalizando mais do que eu, que continuo reclusa e fechada no conforto do meu mundo, tão peculiar e único. Apesar disso, eu quero que você entre e veja tudo isso, pois sei que não haverá julgamentos, nem estranhamentos, nem surpresas desagradáveis. Você ficará à vontade comigo, como já fica quando se lembra dos encontros que já tivemos no nosso tempo quântico, em algum ponto do tempo e do espaço, que já não sei se aconteceu ou se ainda acontecerá. Espero ansiosa para partilhar o que ninguém mais entende. Só com o olhar, eu e você já sabemos. Sempre soubemos e sempre saberemos. Aquele/esse encontro vai além de palavras: está no âmbito das sensações.

sábado, 15 de junho de 2019

Ajustes

Falar o que penso e sinto sempre me fez bem. Ouvir também. Eu gosto de saber o que as pessoas pensam e sentem, mesmo que isso machuque. Em outras épocas, eu ficava bem chateada, mas hoje assimilo melhor. Consigo entender e ficar irritada por algumas horas só. Infelizmente, não se pode esperar o mesmo das pessoas. Elas ficam magoadas mais tempo, e talvez até pela vida toda. Eu sinto muito! Pedi perdão, recentemente, a um amigo de longa data. Ele escolheu o silêncio, e eu o entendo perfeitamente. Nem todos conseguem ou querem se expressar, ainda mais quando algo toca fundo. E eu toco fundo. Eu exijo demais de mim mesma e dos outros. O que eu consigo ver é que, com algumas pessoas, o ajuste nunca ocorre, exatamente por eu magoar e ser magoada, mas perdoar e não ser perdoada. É duro admitir que errou, mas eu tenho consciência e coragem para isso. Eu dou novas chances. Eu queria que as pessoas vissem e admitissem também, mas não posso fazer isso por elas. É triste, mas há pessoas que vão ficando pelo caminho porque não conseguem lidar. Na hora, eu também não consigo lidar, mas depois eu dou um jeito, porque a presença delas é algo bom para mim, apesar de tudo. Algumas pessoas, no entanto, trazem o caos e não querem ajustar para que haja o alívio, e isso é muito legítimo também, pois ninguém é obrigado a estar perto de alguém que lhes faça mal. Se você quer estar perto de alguém e ficar bem, tente conversar, brigar ou o que for para que isso aconteça. Peça perdão. Admita os erros. Ouça a outra pessoa de coração aberto. Se não quer estar perto, seja claro também. As pessoas têm o direito de saber, ainda mais quando elas questionam. Amizade não é algo unilateral. Se não quer amizade com essa pessoa, há muitas outras, cujo conflito é mínimo, mas diga isso a ela. O importante é ser verdadeiro sempre, especialmente com você mesmo.